quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Teste: Harman Kardon HK990 (Amplificador)


Quando saiu este novo amplificador integrado HK990 da harman/kardon, ainda por cima vencedor do prémio EISA 2009 na sua categoria, fiquei bastante curioso e com muita vontade de o experimentar. E não é para menos, pois a estética arrojada e elegante, um conjunto de funções fora do habitual e uma lista de especificações capaz de impressionar o mais exigente audiófilo, são mesmo de fazer sonhar e acreditar que é possível ter tanto por tão pouco. Tão pouco, entenda-se, um P.V.P. a rondar os 1700 euros em Portugal (Magnelusa), mas com um "preço de rua" que pode baixar até aos 1400 euros, mais coisa menos coisa, haja a paciência e a arte para procurar e negociar. Não é propriamente um aparelho "barato", em absoluto, para a realidade nacional e no que toca à reprodução musical stereo, mas num contexto "audiófilo", e se a performance real for tão boa como no papel, então pode dizer-se que é uma verdadeira pechincha. Ou não...

Valeu a pena transportar esta caixa de 24kg até casa? Sim, valeu, porque a experiêcia foi reveladora.

A harman/kardon, nos últimos anos muito associada ao mercado do Home Cinema e dos "integradores" iPod, já foi uma das marcas "fetiche" do imaginário audiófilo comum que todos partilhamos. Há 20 anos atrás, ou mais, esta marca tinha produtos de alta qualidade e muito respeitados nos meios mais "High End" da reprodução musical stereo, e vejo nesta sua reintrodução neste mercado uma tentativa de recuperação da sua imagem e de marcar uma posição de força e capacidade técnica.


Estamos a falar de um design verdadeiramente "dual mono", com circuitos e transformadores separados, simétricos e completamente balanceados. Eu disse transformadores? Bom, são duas abóboras! Cada uma, enorme, para cada canal. Potência... sim, 150W a 8ohms, que duplicam para 300W a 4ohms... e que em testes reais mediram bem mais do que isso (mais perto de 205 a 8ohms)... não lhe falta potência, e muito menos corrente com a sua capacidade para debitar cerca de 200 amperes (!!!) quando a maior parte dos amplificadores nem chegam aos 50 amperes, que prometem uma capacidade fora do comum para lidar com quaisquer colunas de som, seja qual for a sua sensibilidade ou a variação da sua curva de impedância. Um verdadeiro "monstro" de força capaz de mandar abaixo qualquer obstáculo e de lidar com todas as solicitações da fonte e das colunas.


Além da força bruta, o HK990 promete refinamento, entradas de linha RCA e XLR (balanceadas), uma placa interna de andar de phono para equalização RIAA de um gira-discos (MM e MC) que definem como "de qualidade audiófila", uma saída para auscultadores no painel frontal, duas saídas RCA para subwoofer na traseira (por isso eles chamam a este amplificador um integrado 2.2) e um "bonus" muito especial, um conversor digital interno (ADC/DAC 1955 da Analog Devices) com um chip DSP para processamento digital e correcção acústica que permite afinar a resposta do amplificador/colunas para se adaptar às características da sala e aos seus modos de ressonância.


Este pormenor é muito importante nos dias que correm, pois permite ligar por via digital (tem várias entradas Ópticas e Coaxiais), aparelhos como consolas de jogos, discos multimédia, boxes digitais de operadores de TV, etc... ou mesmo, leitores de CD/DVD/BD com conversores de fraca qualidade e que podem funcionar como transporte deixando o processamento e conversão de digital para analógico a cargo do DAC interno do HK990, que goza de alguma reputação positiva no mercado e é usado em alguns aparelhos que fizeram sucesso moderado. Esta funcionalidade promete no fundo uma fácil integração e homogenização da qualidade de som de várias fontes alternativas e pouco habituais, dando uma muito maior liberdade ao seu proprietátrio relativamente à gestão dos seus conteúdos musicais.

Falando de integração, este amplificador tem outra funcionalidade bastante útil e inteligente, que infelizmente não é muito comum. Trata-se da chamada ligação "bypass" (também muitas vezes chamada de Processor Input, ou Unity Gain) que permite ligar os pré-out de um AV Receiver a estas entrada "bypass" RCA do amplificador stereo, que como o nome indica faz uma passagem directa do sinal à secção de potência, sem que passe pelo controlo de volume (secção de pré) do mesmo, ficando neste "input" a funcionar como um típico amplificador de potência, e a regulação do volume a cargo do AV Receiver. A lista de amplificadores integrados existentes com ligação "bypass" é muito curta... normalmente obrigam a passar o sinal por duas secções de pré-amplificação (uma no AV Receiver e outra no amplificador stereo), com duas regulações de volume que precisam de sincronização manual para ajustar a uma utilização de "home cinema". Muito arcaico... todos os amplificadores deviam ter "bypass".

Feita a descrição das suas principais funcionalidades e características técnicas, passemos ao que interessa... a audição! Como soa o harman/kardon HK990?


Tirando partido apenas do seu caminho de sinal completamente analógico, sem qualquer tipo de processamento, liguei o HK990 com o meu restante sistema, B&W 805s, Rega P3/24 e o Denon 2910 como fonte digital (pouco usado no teste).

O HK990 esteve em audição durante todo o dia, mas sou adepto do conceito do "primeiro minuto", ou seja, acredito e tem sido essa a minha experiência, que no primeiro contacto e no primeiro impacto auditivo, é o momento mais propício para ouvirmos claramente as características sonoras de um equipamento, sem vícios de audição ou efeito de habituação física e psicológica que tantas vezes afectam o julgamento e o discernimento de quem tenta avaliar o desempenho dos aparelhos audio. E foi precisamente em pouco mais de 1 minuto que me apercebi do carácter sonoro deste harman/kardon (que se manteve assim ao longo de toda a audição): uma apresentação muito polida e suave, mas com força, escala e uma espécie de presença contagiosa que preenche completamente o palco sonoro e a sala. A resposta de frequências pareceu-me claramente ter uma certa tendência para enfatizar as baixas frequências, e ao mesmo tempo apresentando um detalhe quase analítico nas altas, ou seja uma apresentação do género "equalização sorriso" com os extremos de resposta a serem elevados e a zona intermédia a sofrer uma descida. Este tipo de resposta juntamente com uma força que aposta no carácter profundo e detalhado da apresentação em vez de ritmo e velocidade, tornam o HK990 um amplificador com uma performance pesada, muito arrastada, com pouca alegria e vida. Não fiquei impressionado... se é verdade que as 805s gostaram muito do "grave" que o HK990 as obrigou a produzir, também é verdade que não gostaram nada do arrasto e da lentidão com que a acção se desenrolava. Se de facto se nota a potência/corrente elevadas deste harman/kardon, é mais uma questão de "binário" do que de "cavalos", ou seja, pouco "snap&swing" mas muita força para suportar longas subidas... contra o que seria de esperar, com tanta potência e corrente disponíveis, é nos momentos mais explosivos e dinâmicos que se notam as fragilidades deste amplificador. Curiosamente, a resposta de frequências parecia ficar mais plana com o aumento do volume, e a volumes muito elevados o HK990 parece sentir-se mais confortável, até mais dinâmico, mas não é prático ouvir música sempre a volumes tão elevados.

Um amplificador deve aproximar-se do ideal apresentando o máximo de informação sonora da fonte de uma forma rápida. A ideia é, cada nota, cada som, tem uma amplitude de frequências e um tempo exacto de duração, de ataque, de decay, de reverberação etc... o amplificador ideal não só não acresecenta nem retira nada a esta informação, mas também o faz no tempo certo, e isto enquanto "atura" as manias das colunas, da sua sensibilidade e impedância! Claro que raros são os aparelhos capazes de o fazer de uma forma realmente superior, mas alguns existem e vão aparecendo... este harman/kardon, contra as minhas expectativas iniciais, guloso com aquela lista de especificações, não é um deles. Não tem nem a neutralidade, nem a velocidade, e isto apesar de um design com uma topologia muito interessante e com imenso potencial. Algo falhou neste projecto...


Aproveitei para testar outros pontos de interesse, como o andar de phono integrado. Este, rotulado de "qualidade audiófila" pelo fabricante, não me soou melhor do que um Cambridge Audio 640P (cerca de 125 euros), e claramente inferior ao excelente Heed Questar MM residente, com a sua apresentação "carnuda" e cheia de vida. Por oposição, o phono stage do HK990 é analítico e amorfo, fininho sem vida. Foi uma enorme decepção. Numa réstia de esperança para lhe encontrar qualidades, liguei os meus auscultadores Sennheiser HD600 na saída de headphones, e o que encontrei foi uma amplificação fraca incapaz para fazer os 600 dar música como tão bem sabem fazer, e um volume baixíssimo... Esta saída de amplificação headphones do HK990 é um embaraço para a marca e para o aparelho, tão fraca a sua qualidade, eu nem queria acreditar.

Chegado a este ponto de desilusão quase total... não me restaram forças para explorar a funcionalidade mais interessante, do processador ADC/DAC (nem os seus módulos de correcção acústica e Bass Management). Acredito que seja decente, mas nunca o seria o suficiente para salvar uma prestação de amplificador tão fraca e com tantas falhas.

Resumindo, estes são os pontos negativos que lhe encontrei:
  • Lentidão, falta de ritmo... muito som mas pouca música.
  • Resposta algo equalizada com ênfase nos extremos baixo e alto. Colorações...
  • Dinâmica reduzida (apesar de tanta potência).
  • Phono stage fraco.
  • Headphone output de muito má qualidade.
E alguns positivos:
  • Apresentação de larga escala, talvez até exageradamente "larger than life" mas é uma questão de gosto.
  • Maior equilibrio e dinâmica a volumes elevados.
  • Uma capacidade fora do normal para graves profundos e uma apresentação envolvente que preenche o espaço de forma densa.
  • Estética e conjunto de funcionalidades pouco habituais.
Numa avaliação por "estrelas", de 1 a 5 estrelas... este produto não leva mais do que 1 estrela, porque promete muito, tem um design técnico com enorme potencial, ganhou um prémio EISA, mas a sua prestação não corresponde minimamente às expectativas.

Lamento que fiquem desiludidos, como eu fiquei, com uma "review" tão negativa. Esperava muito mais... Não há muitas ofertas com qualidade "real" neste segmento de mercado, amplificadores integrados abaixo dos 2000 Euros. É como se houvesse uma problema geral de qualidade abaixo desse valor (ou mesmo até aos 3000 euros alargando um pouco o âmbito). Nesse aspecto, o mercado de usados, ou de ocasião, continua a ser muito mais apelativo, pois por esse preço é possível encontrar máquinas que, sem dúvida, jogam noutro campeonato.


www.VinylGourmet.com - Discos de Vinil / Edições Audiófilas

5 comentários:

  1. Hi, I have hk 990 for 8 months now. I did test it against other amps, less and more expensive and with different kinds of speakers. I did use google translate to read your review. That said, I can't agree more with you and I am very happy that I found similar opinion to mine, since these days the overly positive reviews in sites and magazines can make you think that you are insane.
    Especially on the slowness part. This amp surely can't rock. I am going to sell it in the near future and will try to get something that is fast. I compared the hk 990 with 5-10 times cheaper pioneer a-a6-j and the pioneer did rock as it should!
    Would you be so kind and recommend brands/models in the price range of hk 990, that has attack and energy in the music?

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  2. Hi Sing, thanks for visiting ViciAudio :)

    I think I can recommend you should try a NAD amplifier, they usually have a punchy and fast sound for a fair cost. If you can extend to a higher budget, I usually enjoy the sound of Naim amplifiers, and of course, Classé amplifiers (I own a Classé integrated stereo amp).

    I'm sorry that I can't get into much more detail, but truth is I've been very much away from the audio hardware (components) world for the last couple of years, I've been much more into audio software (the music) now that my audio system has stabilized.

    Kind regards,
    Sergio

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  3. Mas ganhar um prémio EISA significa alguma coisa de importante ? Já se sabe como esses prémios são atribuidos, ponto final.

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  4. senti algo parecido quando adquiri um Denon PMA2000IVR, lindo, cheio de recursos, mas soando como um receiver. Agora tenho um Cambridge740A e não foge muito a essas caracteristicas, isso sem falar nos defeitos (bugs)que o mesmo apresenta(volume por ex.)

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  5. senti algo parecido quando adquiri um Denon PMA2000IVR, lindo, cheio de recursos, mas soando como um receiver. Agora tenho um Cambridge740A e não foge muito a essas caracteristicas, isso sem falar nos defeitos (bugs)que o mesmo apresenta(volume por ex.)

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