segunda-feira, 10 de maio de 2010

Teste: Marantz CD-50 Special Edition - A New Kid In Town...



Quando em Abril do ano passado (2009) decidi apostar definitivamente nos formatos analógico (Vinil) como principal fonte de música no meu sistema, para satisfazer as minhas necessidades e desejos musicais, sabendo que daí por diante pouca utilização "séria" faria dos CD's (ou outros formatos digitais), estava convencido de que conseguiria passar esses breves e esporádicos momentos de fruição musical com fonte digital a partir de um aparelho que não é dedicado a esse propósito, neste caso um leitor "universal" Denon DVD-2910.

No seguimento de alguma desilusão com o formato CD, depois de anos a espremer o formato 16/44 numa busca e exploração incessante pelos melhores exemplos da espécie, muitas vezes pagos a peso de ouro devido à sua raridade, cansado com as muitas desilusões, optei por cortar o cordão umbilial com o CD, e não só vendi a maioria dos meus CD's como também me desfiz do meu último leitor de CD dedicado, uma máquina excepcional e que muito me custou encontrar no meio de muita "tralha digital" que fui ouvindo ao longo dos anos, o meu antigo Linn Ikemi.


Bom, posso desde já afirmar que... cometi um erro. Não tanto pelos CD's que vendi (no seu lugar há agora discos de vinil), mas especialmente por me ter desfeito do meu Linn. O problema é muito simples: eu sou um apreciador de música, o meu vício é a música, não os formatos ou o "hardware". Ora, como sabemos, muita música não existe editada em todos os formatos, nisto inclui-se muita música que só consigo encontrar em CD. Mesmo não sendo a prática mais comum cá em casa... não posso evitar ter de ouvir CD's de vez em quando, porque não tenho outra alternativa, quero mesmo ouvir a música, e se o formato não é o que mais gosto não tem qualquer impacto no meu desejo, nem sequer na minha apreciação dessa música (quanto ao som é outra conversa). E assim tem acontecido... sem problemas de maior... até que, ao ouvir um ou outro CD tenho saudades da magia que o Linn fazia, emprestando aos CD's qualidades sónicas pouco habituais que nos permitem ouvir mais e melhor, apreciar mais a música que estamos a ouvir. O meu Denon DVD-2910, como fonte "universal" de DVD, DVDA, SACD e CD, não é propriamente um mau aparelho, antes pelo contrário é bastante competente dentro da sua gama tecnológica e de preço, mas em termos absolutos não entra no campeonato dos leitores de CD dedicados, especialmente os de gama mais alta, sendo as diferenças da qualidade de som reproduzido bastante notórias e audíveis. Tivesse eu mantido o meu Linn Ikemi, não estaria hoje a ter dúvidas existenciais de "upgradit aguda"...

Entra o Marantz CD-50 Special Edition. Depois de muito ler e pesquisar sobre o assunto, e porque não quero voltar a investir demasiado dinheiro nos formatos digitais (afinal fez agora apenas um ano que decidi abandoná-los parcialmente, como fonte principal no meu sistema), optei por fazer uma incursão pouco dispendiosa, mas espero que proveitosa, pelo mundo digital "vintage", nomeadamente através de máquinas que beneficiaram de um certo período de ouro do mundo do Audio Digital em que parecia haver um respeito especial por essa área, como se pode ver neste site dedicado ao material "vintage" de gama alta (cuidado, imagens muito pornográficas, aparelhos belíssimos por vezes completamente nús): The Vintage Knob


Se é verdade que muitas dessas máquinas topo de gama dos anos 80 e início dos anos 90 custam, ainda hoje, valores consideráveis no mercado de usados (falo por exemplo da Série ES da Sony com os seus leitores de CD X777ES, X779ES e X707ES, ou os Marantz CD-85 e CD-94 MKII, o Grunding Fine Arts CD 9009, ou os Philips CD880 e CD960, e ainda os Pioneer Elite PD-91 e PD-93, entre muitos outros), achei que nesta altura nao valia a pena correr riscos, afinal são máquinas com muitos anos de vida e de uso, e para quase todas dificilmente se encontram peças de substiuição, por isso optei por escolher material de gama mais média (ou mesmo média-baixa), mais fácil de encontrar e muito mais barato de adquirir. Mesmo no meio desta baliza de preços (abaixo dos 150 euros no mercado de usados) está a série Marantz CD-40 / CD-50 / CD-60 e CD-80, sendo que não há grandes diferenças entre eles (embora o CD-80 seja normalmente bastante mais caro), e que pelo meio alguns tiveram direito a versão "musculada", chamada Special Edition como no caso do meu, em que alguns componentes internos foram seleccionados por terem maior qualidade e marcas mais "audiófilas".

Comprei o Marantz CD-50 SE pelo eBay inglês, por um preço de 120 Euros (transporte incluído). O aparelho está como novo, praticamente sem sinais de utilização, por dentro e por fora, pois abri a caixa para verificar as entranhas do animal, e está 100% funcional. Lê todo o tipo de CD's e CD-R's sem qualquer tipo de problema, sendo o reconhecimento dos discos e respectiva leitura extremamente rápidos e sem qualquer "glitch", como praticamente só os leitores de CD dedicados conseguem fazer. Trata-se de um aparelho de gama média bastante popular na sua época (apareceu em 1989 e custaria cerca de 350 euros) com um conhecido e robusto transporte Philips CDM4 e o não menos famoso chip de conversão (DAC) Philips TDA1541A (um dos mais respeitados chips multibit) juntamente com o filtro digital SAA7220P/B, e inclui algumas funcionalidades úteis como saída digtial óptica e coaxial, RCA's de output fixo e variável que permite ligar o CD directamente a um amplificador de potência, e ainda uma saída para auscultadores (que utiliza o mesmo circuito de output variável) com muito útil regulação de volume através do controlo remoto, e que trabalha muito bem como pude constatar com os meus excelentes Sennheiser HD600, que normalmente não são fáceis de alimentar.


Pois bem, para quem como eu normalmente só se deixa impressionar por leitores de CD dedicados que custam muito mais do que isto (tipicamente acima dos 1000 euros falando do hardware que se produz actualmente), esta é seguramente uma nova forma de ver as coisas, ou melhor... de as ouvir. Pelo menos é uma forma muito mais barata. E deixou-me muito satisfeito constatar que de facto é possível ter um bom leitor de CD's, diria mesmo um excelente leitor de CD's, por um preço que considero irrisório. Este é um aparelho baseado na "antiga" tecnologia multibit (basicamente há duas tecnologias ADC/DAC principais, a multibit que hoje praticamente não se usa e a bitstream que vingou a partir dos anos 90 principalmente pelo seu custo de produção mais reduzido), e os nossos ouvidos não estão muito habituados a este tipo de performance hoje em dia... infelizmente. Vejamos como tem sido viver com o CD-50 SE, e ouvir CD's (os malditos CD's, não me livro deles) através deste Marantz vintage...

Em primeiro lugar, notei com surpresa que este leitor precisa de aquecer, talvez por causa da idade dos componentes ou do seu design / topologia... nunca tinha notado isto com tanta intensidade noutros aparelhos semelhantes (fontes). Quando se liga o CD-50, durante os primeiros 20 ou 30 minutos noto claramente o som a melhorar e a tornar-se progressivamente mais enérgico e controlado, período depois do qual a performance estabiliza. O som terá talvez menos resolução do que algumas das boas máquinas que já ouvi (todas elas muito mais caras), mas noto uma qualidade "rara" na reprodução de vozes com tonalidade correcta e realismo, címbalos e pratos de bateria com decays bem definidos e temporalmente correctos (estas são as áreas típicamente mais difíceis para qualquer leitor de CD), além de um som em geral seco, sem o brilho e algum "boominess" típicos da maior parte dos leitores de CD modernos e que afectam praticamente todo o espectro de frequências... não se ouvem linhas de baixo embaraçadas e confusas, nem sons mortos e sem conteúdo, ou aquelas gamas altas brilhantes com "sopro" artificial que muitas vezes é acrescentado para simular "arejamento" e espaço. De uma forma geral, o som é bastante contido, correcto, e de uma simplicidade muito ... analógica (sintoma de boa conversão), resultando numa audição muito agradável.


Os bons leitores de CD que se produzem hoje em dia, e que normalmente custam para cima de 1500 euros (como a "nave espacial" aí em cima que parece um aspirador automático), têm um tipo de som que não é muito diferente do som deste Marantz CD-50 SE, mas talvez com um pouco mais de resolução que destaca os detalhes, e um palco sonoro de maiores dimensões, algo que neste Marantz não é especialmente bom (mas não se pode dizer que seja mau). Por outro lado, a coerência e facilidade musical com que o CD-50 SE nos apresenta a som, a essência da performance, não será muito fácil encontrar hoje em dia, mesmo nas máquinas de topo. Não é obviamente um leitor de CD perfeito, arrisco dizer que o meu antigo Linn Ikemi (máquina que tinha um PVP de 3500 euros e um dos melhores leitores de CD que ouvi na minha vida) e outras máquinas desse calibre soam melhor que este Marantz CD-50 SE, mas num confronto directo com qualquer leitor universal hoje à venda até 700 ou 800 euros, duvido que qualquer um deles consiga chegar perto deste tipo de performance... o meu Denon DVD-2910 que era vendido por esse tipo de valores perde claramente o confronto, e dentro do seu género estava entre os melhores.

Para qualquer pessoa que como eu procure alta performance e baixo preço, penso que conseguir tanta qualidade por 120 euros é algo muito próximo de um milagre! Deixo assim a minha mais explícita recomendação e um desafio: explorem o material vintage, há muitas pérolas audiófilas por aí perdidas, com preços convidativos, e muita música para dar. Alguns locais de interesse e mais informação:

http://www.thevintageknob.org/   http://tda1541a.nl/   http://www.lampizator.eu/   http://www.marantzphilips.nl/
http://www.hometheaterhifi.com/the-primers/133-multibit-dacs-vs-1-bit-dacs-defined.html
http://stason.org/TULARC/entertainment/audio/general/10-17-What-are-the-differences-between-multibit-and-Bitstrea.html

Para ver e ouvir em http://ViciAudio.blogspot.com


www.VinylGourmet.com - Discos de Vinil / Edições Audiófilas

9 comentários:

  1. Olá Sérgio,

    Parabéns pelo teu blogue!

    Já pensaste em verificar o estado dos condensadores electrolíticos deste Marantz?
    Embora possa ter trabalhado pouco, tem já mais de 20 anos, pelo que se pode justificar a substituição de alguns destes componentes, com possíveis melhorias a nível da qualidade de som.

    Um abraço,
    Luís Pita

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  2. Boas,

    ainda não lhe fiz nada, desde que chegou tem tocado sem problemas, mas tens razão se calhar uma revisão de rotina não era má ideia, talvez faça isso qualquer dia.

    Obrigado e um abraço!
    Sérgio

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  3. Eu tenho um CD-40 e um CD-60 SE e estou a pensar fazer a este último. Depois digo como foi.

    Fica bem,
    LP

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  4. Sérgio,

    Ontem abri o CD-60 SE e desactivei o circuito dos headphones e o das saídas de som variáveis.
    Para tal, apenas desliguei as fichas que ligam a "board" principal a estas duas mais pequenas.

    Quanto ao som... bem, eu acho que ficou mais definido e encorpado, como se tivesse ficado mais certinho, mas como já era isso que eu estava à espera... (o factor placebo é tramado).

    E que tal se tentasses no teu CD-50, que deve ser idêntico e nos dissesses o que sentiste? ;)

    Um abraço,
    Pita da Vespa

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  5. Boas, já conheço esse tweak, mas como a saída de headphones me é especialmente útil, não mexi. (por acaso funciona muito bem)

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  6. Olá e parabéns pelo Blogue.

    Tanto quanto sei, através de pesquisas e da minha própria experiência, os únicos condensadores que de facto vale a pena substituir nos modelos SE (CD50 e CD60) são os da secção digital por OS-CON, a não ser que os restantes (ELNA Cerafine) estejam com um valor abaixo de 60%...é uma questão de pegar num capacímetro e testar alguns aleatoriamente.

    O que deve ser feito é o bypass de todos os electrolíticos com um condensador MKP ou MKT. Deveras relevante será fazer este exercício nos 14 SMDs do TDA1541A.

    Outras modificações que valem todo o investimento, pois o retorno que aportam ao nível da qualidade sonora é deveras impressionante, são a remoção do maligno ship SAA7220, conversão em NonOverSampling, remoção dos transistores e das resistências do circuito Mute e De-emphasis, substituição do Crystal Clock e dos Op-amps por outros de melhor qualidade e adição de global feedback entre os ditos amplificadores/conversores.

    Por fim, não será de todo negligenciável lubrificar todo o sistema de transporte, melhorar a qualidade das ficas RCA e aplicar algum material betuminoso nas chapas da caixa, pois a qualidade é sinceramente deplorável - ao nível das latas de sardinha em conserva!

    E desculpem-me mas, na minha modesta opinião, o CD em apreço, sem qualquer modificação soa anémico, estéril e deveras digital!

    Um abraço e boas audições,
    Audiophilias

    PS: As alterações que sugiro aplicam-se ao Marantz CD40, CD50, CD60, CD65, CD75, CD80, CD85, CD94, bem como a todos os outros modelos e marcas equipados com o fabuloso ship TDA1541.
    Qualquer questão adicional pode ser remetida para: audiophilias@gmail.com

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  7. Boa tarde
    Antes quero desejar muitas felicidades para o blogue.Tenho um leitor cd 50 com um valor estimativo enorme.Para a classe onde está inserido é muito bom,mas neste momento está parado com muita pena minha,tem duas avarias.O motor dá uns impulsos para arrancar mas pára, o o outro problema surgiu depois,e até poderei ter sido eu,o visor não dá uma única luz,as outras teclas play,stop,rtp e random estas estão ok.Se souberem algo e me derem umas dicas,fico muito agradecido.

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  8. Para todos quantos pretenderem modificar os Marantz CD40/50/60 deixo aqui um link com informação deveras relevante:

    http://blog.svilen.com/2011/01/moddingupgrading-marantz-cd50.html?showComment=1305549311838#c8882489257460894975

    Para mais informações acerca de possíveis modificações (isto para quem ainda não conhece), recomendo a consulta do seguinte link de referência:

    http://lampizator.eu/LAMPIZATOR/CD_ALPHABETICAL.html

    Um cordial abraço,
    Audiophilias

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  9. Quem já ouviu um marantz desses ou similar modificado pelo Tube Dude percebe perfeitamente que se as marcas quisessem o cd tocaria muito melhor do que toca e a preços muitissimo mais reduzidos.

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