quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O som da "gravação"... afinal falamos de quê?

É muito comum, nos meios relacionados com o audio ou com a música, quando comentamos a qualidade de som e nos queremos referir ao conteúdo do disco (em vez do coitado do sistema), usarmos o termo "gravação" de uma forma demasiado generalista, associando-o erradamente a vários tipos de fenómenos sonoros, o que por vezes pode induzir equívocos nas conversas, porque o assunto é bastante mais complexo e, especialmente, porque a gravação propriamente dita sendo um dos factores que determinam o resultado sonoro final, provavelmente perdeu grande parte do seu peso no longo percurso da Produção Audio a que a maior parte dos discos são submetidos. Na verdade, com as habituais excepções, a gravação até costuma apresentar poucos problemas, sendo que estes aparecem com uma muito maior frequência noutras fases da produção. Não faz sentido falar de "gravação" quando de facto, e na esmagadora maioria das ocasiões, nos devíamos estar a referir à Masterização.

CAPTAÇÃO / GRAVAÇÃO - EDIÇÃO / MISTURA - MASTERIZAÇÃO

Tipicamente podemos falar de uma fase de Captação e Gravação, quando o som produzido em estúdio ou ao vivo é captado por um ou vários microfones, e registado "em bruto" num suporte normalmente separado em pistas, ao que se segue uma fase de Edição e Mistura das várias pistas gravadas (instrumentos, vozes, ou outros sons) numa unidade coerente, com posicionamento correcto nos canais disponíveis e de acordo com os objectivos artísticos ou de produção, além da eventual adição de efeitos de reverberação, eco, distorção ou outros, e finalmente a Masterização em que não se trabalham as pistas, mas sim as faixas já misturadas, e a sua finalidade é garantir que o som do "mix" final não se perde na transposição para o "media" (CD, Vinil, SACD, DVDA, BD, etc), mantendo a sonoridade pretendida pela produção ou pelo artista da melhor forma possível, garantindo que não existem disparidades indesejadas no volume entre faixas, que a equalização está adequada, e que a sequência de faixas está correcta bem como o seu espaçamento e "fade-in/fade-out" entre elas, no início e no fim do disco. Normalmente é na fase de Masterização que se aplica a famosa compressão dinâmica que tanto tem prejudicado esta indústria e os seus consumidores, pois é nesta fase que se "adequa" o volume geral do disco ao fim que lhe está destinado.

Por vezes existe alguma sobreposição entre as fases de Mistura e de Masterização, sendo que algumas das tarefas atribuíveis a uma ou a outra podem trocar de posição e depende muito de cada projecto específico e da metodologia adoptada, no entanto a mistura de pistas e sua configuração em termos de disposição no "palco sonoro", a criação de faixas musicais propriamente ditas, é sempre exclusivo de um processo de Mistura, e a transposição do "mix" para o "media" final que servirá de base às cópias vendidas no mercado é sempre exclusivo de um processo de Masterização. Poderiamos pensar que a Masterização não passaria de uma transposição de um formato audio para outro (analógico para digital, por exemplo, ou de "tape" para vinil), mas não é isso que de facto acontece pois durante a Masterização são realizadas operações de manipulação de volume, filtros de ruído, limitadores e compressão, cujo impacto se pode tornar esmagador para o som que o disco (ou outro media) vai ter. A própria manipulação do mix, a sua transposição entre formatos e a sua passagem por consolas e conversores, implica uma situação de compromisso técnico que normalmente resulta em perdas de qualidade, e há muitas formas diferentes de lidar com isso obtendo diferentes resultados. O Mastering Engineer é um artista, por vezes um cientista também, que pode fazer maravilhas, ou aberrações... nas suas mãos está um poder enorme sobre o som que vai chegar ao grande público.

Voltando à importância de usar os termos correctos, quando falamos em gravação, estamos a abordar o tema de uma forma incorrecta, mesmo que apenas na terminologia, porque dá a entender que o resultado sonoro é determinado por uma fase de captação/gravação que, sendo sem dúvida importante, não é normalmente aquela onde se encontram os maiores problemas, mais audíveis e intrusivos, nem é normalmente a mais determinante para o som do "produto" final.

Na verdade, a gravação pode ser complexa, com a escolha dos microfones e a sua quantidade/posicionamento, ou a atribuição de pistas, mas após essa escolha técnica, o som captado e gravado não está ainda danificado, tipicamente nesta fase o som gravado tem muita qualidade, está em "bruto", não sofreu ainda perdas excepto aquelas inerentes aos próprios microfones e outro hardware relacionado com a captação e gravação.


Onde realmente se vão executar as tarefas que podem determinar a qualidade de som de um disco, é nas fases seguintes, de Mistura e Masterização. Nestas fazem-se alterações e ajustes ao som gravado originalmente que podem resultar muito bem, ou muito mal, e mesmo quando o material gravado tem algum raro problema, nesta fase isso pode normalmente ser corrigido com facilidade. Desde a compressão dinâmica, à equalização, ou às técnicas de redução de ruído para eliminar o sopro de fundo normalmente chamado de "tape hiss", entre muitos outros procedimentos relacionados com filtros e efeitos de vários tipos, analógicos ou digitais, as ferramentas ao dispôr do Mastering Engineer são muitas, poderosas, e o sucesso da sua utilização depende principalmente do bom gosto da produção.

Por questões de ordem técnica, e mesmo históricas, a maior parte das operações com impacto sonoro a que normalmente chamamos "qualidade da gravação", estão posicionadas ao nível da última fase, da Masterização propriamente dita, já depois da fase de Mistura. Quando um disco nos soa agressivo, ou amorfo, ou achamos que um certo intrumento ou voz estão mal equalizados, ou que o som está muito alto/baixo, ou que o palco sonoro é profundo ou do tipo "parede de som", estamos na verdade a falar sobre a Masterização, e não sobre qualquer aspecto relacionado com a gravação sonora. São as operações executadas durante as fases de Mistura, e principalmente de Masterização que conferem uma sonoridade e uma dimensão ao material gravado, que antes dessa fase não existem. Se ouvirmos as pistas antes deste trabalho, o resultado será bem diferente daquilo que ouvimos já depois da fase de Mistura. E quando ouvimos, precisamente o mesmo material, depois da Masterização, mais uma vez vamos ouvir algo muito diferente. A evolução sonora entre aquilo a que chamamos de Gravação e o resultado de todo um percurso de Produção Audio é enorme, a gravação original pode quase ser irreconhecível.

Isto explica porque é que, muitas vezes, existem várias misturas e masterizações para a mesma gravação original, não raras vezes com sonoridades muito diferentes apesar de usarem a mesma "matéria prima". Há casos famosos de obras que foram masterizadas dezenas de vezes, cada uma delas com um som diferente, e que circulam pelo mercado ao longo dos anos em dezenas de edições em CD diferentes, mais as edições em vinil e as de SACD/DVDA, compondo "ramalhetes" sónicos por vezes difíceis de perceber e de se chegar a consensos sobre qual a versão que melhor representa as tapes originais ou as intenções do artista/produção... o "tal som" original.

Por tudo isto, já sabe, da próxima ocasião em que queira comentar a qualidade de som do disco que está a ouvir... fale da Masterização (ou eventualmente da Mistura), pois é este o momento da produção do disco que lhe conferiu a sonoridade e o tipo de apresentação sonora, que faz de um disco muito bom, ou muito mau... "or something in between".

(neste post, propositadamente, deixei de fora as problemáticas e complexidades associadas aos processos de conversão analógica/digital que estão associados à masterização audio, tema que será abordado noutra ocasião e num âmbito mais alargado)


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terça-feira, 27 de outubro de 2009

U2 no YouTube - Live From The Rose Bowl


No canal oficial dos U2 no YouTube pode ver-se o "re-broadcast" do concerto integral no Rose Bowl (EUA) decorrido no passado dia 25 de Outubro de 2009. Já dá para enganar a fome até Outubro de 2010, altura em que a banda passará por Portugal para dar, não um, mas dois concertos (e já há quem fale na possibilidade, pouco provável, de um terceiro) que vão decerto ser memoráveis. Vale a pena visitar, aqui: http://www.youtube.com/u2 para ouvir os novos temas e recordar os "velhos" êxitos, em concerto.


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domingo, 25 de outubro de 2009

Uma famosa "Sala do Terror"...



No seguimento da apresentação do meu sistema venho agora apresentar a outra metade do mesmo, porque nenhum sistema de som funciona independentemente do espaço onde se encontra. Aqui está a "Sala do Terror"!

Assim carinhosamente apelidada porque os "modos", ressonâncias e reflexões abundam neste espaço, e foi necessária alguma bricolage (a tratar com mais detalhe noutro post) para melhorar a sua interacção com o resto do sistema audio. Assim, como componente fundamental do sistema, fica desde já apresentada, descrita e com um "relato" das principais alterações a que foi sujeita.

Dimensões gerais:
Largura 562cm / Comprimento 389cm / Altura 268cm
Pormenor da janela:
Largura 187cm / Altura 197cm

  A disposição da sala é mais ou menos esta:



Esta sala apresenta vários problemas, de grande intensidade. Não sei se por causa das dimensões, ou da própria construção interna das paredes chão e tecto... a tendência para ecos e ressonâncias é enorme, e é muito difícil escapar aos modos da sala, parece quase impossível não ter graves enfatizados e embrulhados... e a gama média disparada de e para todas as direcções...

Mas não é impossível transformar uma "sala do terror" num local minimamente adequado para ouvir música... Vou descrever aqui com algum pormenor as várias fases de melhoramentos e alterações que foram feitas. Convém desde já fazer notar que as operações realizadas tiveram por base um complexo e rigoroso sistema de medição e avaliação de resultados sonoros: ouvidos + cérebro



Para resolver uma boa parte dos problemas de gama baixa e média baixa, a solução foi reposicionar as colunas no limite da habitabilidade e do WAF (Wife Acceptance Factor), ou seja, o mais possível afastadas das paredes traseira e laterais. Neste momento tenho as colunas com as seguintes distâncias (medições feitas tendo por ponto de referência o painél frontal das colunas ao nível do woofer):

- Para parede traseira: 95cm
- Para parede lateral mais próxima: 75cm
- Para parede lateral mais distante: 255cm
- Entre as duas colunas: 210cm
- Entre cada coluna para ponto de audição: 280cm

Aqui o principal problema continua a ser a disparidade das distâncias para as duas paredes laterais, mas isto foi o melhor que se conseguiu. A distância para a parede traseira está neste momento bastante grande e permite às colunas respirar livremente... infelizmente o plasma de 43" no meio das colunas não ajuda nada (e testei isto também), mas por enquanto terá de ficar assim. O ponto de audição pode ser afinado com alguma margem de manobra, para mais perto ou mais longe das colunas (movendo o sofá) e isso tem grande impacto na percepção dos modos da sala, mas cheguei à conclusão de que resulta melhor quase encostando o sofá à parede traseira, deixando apenas uns dois centímetros de intervalo entre eles.



Tipicamente o som melhora com o aumento da distância entre colunas e paredes, mas há limites do que é razoável para o espaço continuar habitável e confortável. Dentro dos limites referidos, fiz vários testes (na verdade vou fazendo, é um processo que não está próximo de terminar) com pequenas variações de posicionamento das colunas (e subwoofer), para progressivamente me aperceber das diferenças e escolher o melhor posicionamento, que resulte melhor em termos de linearidade da resposta de frequência das colunas+sala. Outro factor importante a ter em conta é a orientação das colunas relativamente ao ponto de audição, ou seja se "apontam" duas linhas imaginárias com maior ou menor ângulo de convergência (o chamado "toe-in"), sendo que há sobre isto as mais variadas teorias e tentativas de nos dizerem o que é "mais correcto", mas na verdade o resultado sofre variações que no fim só podem ser avaliadas à luz das preferências de cada um... além do mais, uma regra aplicável às colunas X pode bem não se aplicar às colunas Y. Neste momento, e porque isto também vai sofrendo alterações com o meu estado de espírito, as colunas estão orientadas quase a direito, com um "toe-in" mínimo, quase negligenciável. O chamado "triângulo imaginário" formado pelas duas colunas e ouvinte não só tem um lado mais curto (a distância entre colunas) como o vértice do ouvinte está formado num ponto que lhe fica muito atrás. Com estas colunas, nesta sala, isto resulta numa expansão do "palco sonoro" que cresce para os lados e se torna mais profundo também, mas perde um pouco a definição e detalhe nas altas frequências... o compromisso não é mau, e como vou aprendendo cada vez mais, o audio é um jogo permanente de compromissos.



A colocação do sistema e sua orientação, dentro dos limites de habitabilidade e funcionalidade da sala, foram suficientes para resolver uma enorme fatia dos problemas acústicos mais proeminentes. Bom, foi a colocação, e a escolha de componentes com poucas colorações e distorção... sim, o sistema também participa nesta "festa", e nem tudo é provocado pela sala "per si", muitas vezes os fenómenos acústicos das salas só se notam porque estão a "amplificar" defeitos do próprio sistema. É importante, especialmente numa sala que "amplifica" muito, ter um sistema limpo, com o máximo de linearidade, poucas ou nenhumas colorações, e um mínimo de distorção.



Mas além destes dois processos paralelos... a "bricolage" que realizei teve um contributo importante para um resultado final que considero positivo. Estas alterações focaram-se principalmente no tratamento acústico através de um maior "enchimento" do espaço dentro da sala, colocação de tapetes, cortinados, telas, paredes forradas com estantes, utilização de tubos "bass traps" nos cantos, painéis de absorção nas paredes, e espuma de isolamento acústico em locais estratégicos, "quase invisíveis". Detalhes sobre estas operações em posts que publicarei brevemente.



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sábado, 24 de outubro de 2009

A rodar: Porcupine Tree - Signify (1996 2xLP Edição Original)


Porcupine Tree (PT) é um grupo criado por Steven Wilson com uma sonoridade do tipo ambiental / progressivo (embora tenha passado por vários géneros e estilos ao longo de uma já extensa discografia, como o metal ou o rock psicadélico, é extremamente difícil classificar PT). Hoje ouvi Signify, na sua versão original em vinil e que, sem surpresa, soa muito bem e melhor que as edições em CD. Destas digitais, há uma edição original que tem um som de boa qualidade e que não merece grandes reparos mas que mesmo assim é inferior ao vinil original, e além dessa há uma edição mais recente remasterizada com 2 CD's e que é de fugir, cuidado para não rebentar os ouvidos com a compressão dinâmica que lhe aplicaram! Existe outra edição em vinil, com som remasterizado, mas que nunca tive oportunidade de ouvir. Aqui pode ver e ouvir um pouco do som que esta edição em vinil original pode proporcionar. O som é cheio e dinâmico, com uma gama baixa poderosa mas por vezes pouco detalhada, gama média natural e aqueles agudos com decays correctos que só conheço no vinil, e embora a prensagem não seja perfeita, com algum ruído de fundo, está a um nível muito aceitável e consegue apresentar um detalhe e recorte muito interessantes sem estragar a naturalidade do som.



Este LP original está oficialmente "Out Of Print" e só se encontra no mercado de usados (normalmente no Ebay) e os preços não são baratos... o LP remasterizado que saiu mais recentemente poderá ser uma alternativa válida, mas nunca ouvi não posso recomendar, além de ficar sempre desconfiado com as remasterizações actuais que raramente são boas. Pior ainda, o LP remasterizado é também ele bastante raro, e não os tenho visto à venda em lado nenhum, por isso o risco de uma remasterização inferior associa-se a uma despesa que pode ser igual ou até maior. Mas vale a pena procurar o LP original, a música é excelente, não tem "palha" nenhuma, o trabalho técnico de qualidade vai-se misturando com puro génio e música do melhor nível que satisfaz as emoções e ao mesmo tempo demonstra o virtuosismo sempre presente nos trabalhos de Porcupine Tree.

Detalhes da edição:
Artista: Porcupine Tree / Título: Signify / Editora / Ano: Delerium 1996 / Catálogo: Delec LP 045D
MATRIX A (Deadwax) Disco 1 Lado A:
DELEC LP 045D - A1 The Brainwashed Do Not Know They Are Brainwashed A Porky Prime Cut
Código de barras: 5032966094514 / Outros: Gatefold Sleeve 2xLP 12" 33rpm (Made in England)

Não resisti a colocar mais um video em que toca a minha faixa preferida deste album:


Porcupine Tree no Wikipedia - Porcupine Tree no MySpace - Porcupine Tree no Prog Archives


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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A rodar: Sigur Rós - In a Frozen Sea (2007 7xLP Reedição)


Sigur Rós, In a Frozen Sea (editado pela Artists In Residence), contém os três primeiros albums desta banda Islandesa ("agaetis byrjun", "()", e "Takk...", não estou a incluir o album original "Von" nem o "Recycle Bin") em duas fatias de vinil cada um (no caso de "Takk..." ocupa ainda um lado de um terceiro LP), e ainda pela primeira vez em 12" o EP "Smáskífa", num total 7 LP's com 14 lados de música.

Eu tenho toda a discografia e material editado da banda (Albums, EP's, Singles e DVD's), em CD e em Vinil... não perdi os seus concertos em Portugal... portanto... gosto de Sigur Rós. Porque gosto muito da música que eles fazem, preocupa-me ouvi-la com a melhor qualidade de som que seja possível. Sendo uma banda contemporânea, não seria de esperar grande qualidade de som (em geral isto anda mesmo mau), mas na verdade, não é bem assim... De uma forma geral, a qualidade de som dos CD's (albums, EP's e singles) é boa, ou acima da média, com duas ou três excepções em que há talvez demasiada compressão dinâmica ou um brilho "airoso" que me parece resultado de uma equalização despropositada. O som do DVD Heima é bastante bom, com uma dinâmica assinalável e equilibrio tonal. Mas para garantir a melhor qualidade em todos os discos, é necessário apostar no vinil (o formato de alta resolução mais antigo mas que ainda hoje oferece uma qualidade de som invejável).



Visto que estamos a falar da caixa que contém os três primeiros albums (não estou a incluir o album original "Von" nem o "Recycle Bin"), importa referir que estes, todos eles excepto "Takk...", foram editados em vinil por três ocasiões diferentes.

A primeira, por ocasião lançamento de cada album no ano respectivo. A segunda nesta edição In a Frozen Sea. E finalmente, a terceira em re-edições de 2008 remasterizadas e produzidas com o sistema DMM (excepto "Takk..." que não foi re-editado nesta fornada de 2008).

Dos albums "agaetis byrjun" e "()" tenho as edições DMM (2008) e da caixa In a Frozen Sea (2007), nunca tive oportunidade de ouvir a edição original de cada um deles. Do album "Takk..." já tive a edição original (entretanto vendida) e tenho a outra versão existente, a da caixa In a Frozen Sea de 2007.

Começo precisamente pelo "Takk...", visto que ouvi todas as versões existentes em Vinil. O vinil original foi limitado a 1000 unidades mundialmente (que hoje em dia dificilmente se encontra por menos de 100 euros) tem uma capa luxuosa com desenhos embossados e um disco extra de 10" com gravuras num dos lados, verdadeiramente espectacular, um "pack" pesado e com alta qualidade de construção e apresentação. Mas... além de conhecidos e famosos problemas de fabrico (vinil muito ruidoso) o som do cut/masterização é verdadeiramente mau, "abafado" por um grosso cobertor sónico que erradicou as frequências mais altas e tornou todo o som numa "amálgama pastelona" quando comparado com a edição da caixa In a Frozen Sea. Soa-me a master digital, de longe... O que não se percebe pois este album foi gravado e misturado de forma 100% analógica, segundo relatos dos próprios membros da banda. Eventualmente usou-se o master digital do CD para fazer este LP... Não vale a pena o dinheiro que custa esta raridade... a não ser por puro coleccionismo.

Os outros dois, "agaetis byrjun" e "()", pelo que consegui apurar debantendo com outros interessados e lendo os relatos de vários ouvintes espalhados pelo mundo, nas suas edições originais, são também afectados pelos problemas de prensagem defeituosa, com vinil de fraca qualidade, muito ruído, "pops"/"cracks"... mas diz-se que a masterização é de boa qualidade. Inclusivamente, esse será o único "agaetis byrjun" que usa a mix tape original pois esta perdeu-se e as edições seguintes usaram um remix (ao que consta rigorosamente igual ao original). O mesmo se aplicando a "()", mas em ambos os casos estas edições originais são também muito raras e caras (provavelmente também sempre acima dos 100 euros), o que não se justifica face à fraca qualidade das prensagens, e quando há como veremos edições mais recentes muito bem masterizadas e eventualmente de melhor prensagem. Não me preocupei em obter estas edições, dispensando o risco de me arrepender como sucedeu com "Takk..." - (Nota de Última Hora 18/04/2010: por acaso dei de caras com uma edição original do album "()" e já pude ouvir para comparar com a edição da caixa In a Frozen Sea e com a recente re-edição DMM. Tal como no caso do "Takk..." o som desta edição original é bastante fraco, também ele abafado e enrolado nas altas frequências, não justifica minimamente pagar o preço a que normalmente se encontram, que é bem alto)

Ainda sobre "agaetis byrjun" e "()", as re-edições DMM de 2008 que se encontram agora à venda nos locais habituais, e que tenho na minha discoteca, são muito más. Salva-se a prensagem de altíssima qualidade, ultra-silenciosa, mas a masterização... é quase garantidamente um cut que usou uma master digital. Mais uma vez, ao que consta, existem masters analógicas destes albums, pelo que não percebo a opção da editora... o resultado é semelhante ao vinil original de "Takk...", som mole, sem ataque, sem detalhe, altas frequências cortadas, uma sensação de som balofo e sem vida... Evitem estas edições DMM, não valem a pena.

Mais uma vez, a luz ao fundo do túnel está na caixa In a Frozen Sea, com masterizações vivas, detalhadas, com uma presença, profundidade e impacto "life like". Neste capítulo, da qualidade da masterização dos albums, a caixa In a Frozen Sea de 2007 é um verdadeiro brinde audiófilo. Sigur Rós nunca soou tão bem, deixa a maior parte dos CD's a léguas em termos de experiência musical e sensorial.

Infelizmente parece que é impossível ter Sigur Rós com boa masterização e boa qualidade de fabrico ao mesmo tempo. O vinil usado na caixa é, mais uma vez, de qualidade questionável, apresentando num ou noutro disco alguma distorção resultante de problemas nos sulcos mal prensados, e por vezes algum ruído de fundo. Com a audição repetida... cheguei à conclusão de que esses defeitos não são suficientes para impedir o ouvinte de mergulhar nesse mar gelado de música cantada numa lingua distante, que não conhecemos, mas que nos toca como se fosse algo que vem de dentro de nós. Na verdade, e no meu caso, em 7 discos apenas 2 apresentam esses problemas, e a espaços... fica muita música livre de qualquer condicionalismo, e com um som gloriosamente real.

In a Frozen Sea (uma edição limitada a 5000 unidades) é altamente recomendado, sem qualquer tipo de reserva! Pode comprar-se em Portugal (Fnac ou CDgo) por cerca de 220 euros, ou lá fora via internet por um pouco menos (já as vi a 160 euros). Para 3 albums e 1 EP, num pack de 7 LP's que traz também um livro com imagens inéditas, numa edição limitada a 5000 unidades, não é um mau preço!

De 1 a 5 estrelas, leva 4 estrelas pela qualidade da masterização e do packaging, só não leva 5 por causa dos defeitos de prensagem.

Outros links de interesse:
http://www.sigur-ros.co.uk/  http://www.soundonsound.com/sos/Jul02/articles/sigurros.asp
http://www.popplagid.com/  http://www.ainr.com/bands/index_Sigur.html
http://www.myspace.com/sigurros  http://www.heimafilm.com/


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Still Vinyl 2009 - Show de Audio e Vinyl



No fim deste mês de Outubro 2009 (no fim-de-semana de 31/10 a 01/11), vai decorrer mais uma edição do Still Vinyl no Hotel Park Atlantic, um evento dedicado a este formato analógico e aos equipamentos associados. Nunca tive oportunidade de visitar este evento organizado pelo Audiomania e que goza de boa reputação nos meios audiófilos nacionais, e que conta com a presença dos principais distribuidores e lojas do sector que, neste caso, apresentam apenas sistemas cuja fonte é o gira-discos. Sem dúvida a não perder, e eu vou lá estar se tudo correr como espero. Em baixo pode ler-se a comunicação oficial dos organizadores do Still Vinyl 2009:

"Local: Hotel Park Atlantic Lisboa, Rua Castilho, 149 Lisboa
Data: 31 Outubro a 1 de Novembro
Horário Público: Sábado 14:30H-21:30H / Domingo 14:30H-19:30H
Entrada gratuita

Nos próximos dias 31 de Outubro e 1 de Novembro, no Hotel Park Atlantic Lisboa na Rua Castilho, em Lisboa, realiza-se a segunda edição exclusivamente dedicado ao LP, o STILL VINYL 2009, enquanto espaço para a divulgação do formato vinil, soluções para a sua reprodução e acessórios.
À semelhança do verificado na primeira edição realizada em 2007, trata-se de um evento dedicado exclusivamente a este formato com o qual se pretende divulgar o que melhor se comercializa em Portugal, juntando num mesmo espaço, durante dois dias, os principais profissionais do sector e a comunidade entusiasta do vinil.
Com entrada gratuita, ao visitante será proporcionado o contacto com uma gama alargada de soluções dedicadas à reprodução de vinil e demais acessórios, exposições e bancas de venda de discos que farão a delícia de todos os que se interessam pelo formato.
Numa altura em que a industria do entretenimento, nomeadamente a industria discográfica e relacionadas passam por uma das suas maiores crises de sempre, o suporte vinil tem vindo a registar uma atenção cada vez maior por parte de um público conhecedor e disponível, assumindo-se hoje como o suporte de referência para o melomano exigente, uma alternativa à massificação imposta pelos formatos digitais actuais."


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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Teste: Harman Kardon HK990 (Amplificador)


Quando saiu este novo amplificador integrado HK990 da harman/kardon, ainda por cima vencedor do prémio EISA 2009 na sua categoria, fiquei bastante curioso e com muita vontade de o experimentar. E não é para menos, pois a estética arrojada e elegante, um conjunto de funções fora do habitual e uma lista de especificações capaz de impressionar o mais exigente audiófilo, são mesmo de fazer sonhar e acreditar que é possível ter tanto por tão pouco. Tão pouco, entenda-se, um P.V.P. a rondar os 1700 euros em Portugal (Magnelusa), mas com um "preço de rua" que pode baixar até aos 1400 euros, mais coisa menos coisa, haja a paciência e a arte para procurar e negociar. Não é propriamente um aparelho "barato", em absoluto, para a realidade nacional e no que toca à reprodução musical stereo, mas num contexto "audiófilo", e se a performance real for tão boa como no papel, então pode dizer-se que é uma verdadeira pechincha. Ou não...

Valeu a pena transportar esta caixa de 24kg até casa? Sim, valeu, porque a experiêcia foi reveladora.

A harman/kardon, nos últimos anos muito associada ao mercado do Home Cinema e dos "integradores" iPod, já foi uma das marcas "fetiche" do imaginário audiófilo comum que todos partilhamos. Há 20 anos atrás, ou mais, esta marca tinha produtos de alta qualidade e muito respeitados nos meios mais "High End" da reprodução musical stereo, e vejo nesta sua reintrodução neste mercado uma tentativa de recuperação da sua imagem e de marcar uma posição de força e capacidade técnica.


Estamos a falar de um design verdadeiramente "dual mono", com circuitos e transformadores separados, simétricos e completamente balanceados. Eu disse transformadores? Bom, são duas abóboras! Cada uma, enorme, para cada canal. Potência... sim, 150W a 8ohms, que duplicam para 300W a 4ohms... e que em testes reais mediram bem mais do que isso (mais perto de 205 a 8ohms)... não lhe falta potência, e muito menos corrente com a sua capacidade para debitar cerca de 200 amperes (!!!) quando a maior parte dos amplificadores nem chegam aos 50 amperes, que prometem uma capacidade fora do comum para lidar com quaisquer colunas de som, seja qual for a sua sensibilidade ou a variação da sua curva de impedância. Um verdadeiro "monstro" de força capaz de mandar abaixo qualquer obstáculo e de lidar com todas as solicitações da fonte e das colunas.


Além da força bruta, o HK990 promete refinamento, entradas de linha RCA e XLR (balanceadas), uma placa interna de andar de phono para equalização RIAA de um gira-discos (MM e MC) que definem como "de qualidade audiófila", uma saída para auscultadores no painel frontal, duas saídas RCA para subwoofer na traseira (por isso eles chamam a este amplificador um integrado 2.2) e um "bonus" muito especial, um conversor digital interno (ADC/DAC 1955 da Analog Devices) com um chip DSP para processamento digital e correcção acústica que permite afinar a resposta do amplificador/colunas para se adaptar às características da sala e aos seus modos de ressonância.


Este pormenor é muito importante nos dias que correm, pois permite ligar por via digital (tem várias entradas Ópticas e Coaxiais), aparelhos como consolas de jogos, discos multimédia, boxes digitais de operadores de TV, etc... ou mesmo, leitores de CD/DVD/BD com conversores de fraca qualidade e que podem funcionar como transporte deixando o processamento e conversão de digital para analógico a cargo do DAC interno do HK990, que goza de alguma reputação positiva no mercado e é usado em alguns aparelhos que fizeram sucesso moderado. Esta funcionalidade promete no fundo uma fácil integração e homogenização da qualidade de som de várias fontes alternativas e pouco habituais, dando uma muito maior liberdade ao seu proprietátrio relativamente à gestão dos seus conteúdos musicais.

Falando de integração, este amplificador tem outra funcionalidade bastante útil e inteligente, que infelizmente não é muito comum. Trata-se da chamada ligação "bypass" (também muitas vezes chamada de Processor Input, ou Unity Gain) que permite ligar os pré-out de um AV Receiver a estas entrada "bypass" RCA do amplificador stereo, que como o nome indica faz uma passagem directa do sinal à secção de potência, sem que passe pelo controlo de volume (secção de pré) do mesmo, ficando neste "input" a funcionar como um típico amplificador de potência, e a regulação do volume a cargo do AV Receiver. A lista de amplificadores integrados existentes com ligação "bypass" é muito curta... normalmente obrigam a passar o sinal por duas secções de pré-amplificação (uma no AV Receiver e outra no amplificador stereo), com duas regulações de volume que precisam de sincronização manual para ajustar a uma utilização de "home cinema". Muito arcaico... todos os amplificadores deviam ter "bypass".

Feita a descrição das suas principais funcionalidades e características técnicas, passemos ao que interessa... a audição! Como soa o harman/kardon HK990?


Tirando partido apenas do seu caminho de sinal completamente analógico, sem qualquer tipo de processamento, liguei o HK990 com o meu restante sistema, B&W 805s, Rega P3/24 e o Denon 2910 como fonte digital (pouco usado no teste).

O HK990 esteve em audição durante todo o dia, mas sou adepto do conceito do "primeiro minuto", ou seja, acredito e tem sido essa a minha experiência, que no primeiro contacto e no primeiro impacto auditivo, é o momento mais propício para ouvirmos claramente as características sonoras de um equipamento, sem vícios de audição ou efeito de habituação física e psicológica que tantas vezes afectam o julgamento e o discernimento de quem tenta avaliar o desempenho dos aparelhos audio. E foi precisamente em pouco mais de 1 minuto que me apercebi do carácter sonoro deste harman/kardon (que se manteve assim ao longo de toda a audição): uma apresentação muito polida e suave, mas com força, escala e uma espécie de presença contagiosa que preenche completamente o palco sonoro e a sala. A resposta de frequências pareceu-me claramente ter uma certa tendência para enfatizar as baixas frequências, e ao mesmo tempo apresentando um detalhe quase analítico nas altas, ou seja uma apresentação do género "equalização sorriso" com os extremos de resposta a serem elevados e a zona intermédia a sofrer uma descida. Este tipo de resposta juntamente com uma força que aposta no carácter profundo e detalhado da apresentação em vez de ritmo e velocidade, tornam o HK990 um amplificador com uma performance pesada, muito arrastada, com pouca alegria e vida. Não fiquei impressionado... se é verdade que as 805s gostaram muito do "grave" que o HK990 as obrigou a produzir, também é verdade que não gostaram nada do arrasto e da lentidão com que a acção se desenrolava. Se de facto se nota a potência/corrente elevadas deste harman/kardon, é mais uma questão de "binário" do que de "cavalos", ou seja, pouco "snap&swing" mas muita força para suportar longas subidas... contra o que seria de esperar, com tanta potência e corrente disponíveis, é nos momentos mais explosivos e dinâmicos que se notam as fragilidades deste amplificador. Curiosamente, a resposta de frequências parecia ficar mais plana com o aumento do volume, e a volumes muito elevados o HK990 parece sentir-se mais confortável, até mais dinâmico, mas não é prático ouvir música sempre a volumes tão elevados.

Um amplificador deve aproximar-se do ideal apresentando o máximo de informação sonora da fonte de uma forma rápida. A ideia é, cada nota, cada som, tem uma amplitude de frequências e um tempo exacto de duração, de ataque, de decay, de reverberação etc... o amplificador ideal não só não acresecenta nem retira nada a esta informação, mas também o faz no tempo certo, e isto enquanto "atura" as manias das colunas, da sua sensibilidade e impedância! Claro que raros são os aparelhos capazes de o fazer de uma forma realmente superior, mas alguns existem e vão aparecendo... este harman/kardon, contra as minhas expectativas iniciais, guloso com aquela lista de especificações, não é um deles. Não tem nem a neutralidade, nem a velocidade, e isto apesar de um design com uma topologia muito interessante e com imenso potencial. Algo falhou neste projecto...


Aproveitei para testar outros pontos de interesse, como o andar de phono integrado. Este, rotulado de "qualidade audiófila" pelo fabricante, não me soou melhor do que um Cambridge Audio 640P (cerca de 125 euros), e claramente inferior ao excelente Heed Questar MM residente, com a sua apresentação "carnuda" e cheia de vida. Por oposição, o phono stage do HK990 é analítico e amorfo, fininho sem vida. Foi uma enorme decepção. Numa réstia de esperança para lhe encontrar qualidades, liguei os meus auscultadores Sennheiser HD600 na saída de headphones, e o que encontrei foi uma amplificação fraca incapaz para fazer os 600 dar música como tão bem sabem fazer, e um volume baixíssimo... Esta saída de amplificação headphones do HK990 é um embaraço para a marca e para o aparelho, tão fraca a sua qualidade, eu nem queria acreditar.

Chegado a este ponto de desilusão quase total... não me restaram forças para explorar a funcionalidade mais interessante, do processador ADC/DAC (nem os seus módulos de correcção acústica e Bass Management). Acredito que seja decente, mas nunca o seria o suficiente para salvar uma prestação de amplificador tão fraca e com tantas falhas.

Resumindo, estes são os pontos negativos que lhe encontrei:
  • Lentidão, falta de ritmo... muito som mas pouca música.
  • Resposta algo equalizada com ênfase nos extremos baixo e alto. Colorações...
  • Dinâmica reduzida (apesar de tanta potência).
  • Phono stage fraco.
  • Headphone output de muito má qualidade.
E alguns positivos:
  • Apresentação de larga escala, talvez até exageradamente "larger than life" mas é uma questão de gosto.
  • Maior equilibrio e dinâmica a volumes elevados.
  • Uma capacidade fora do normal para graves profundos e uma apresentação envolvente que preenche o espaço de forma densa.
  • Estética e conjunto de funcionalidades pouco habituais.
Numa avaliação por "estrelas", de 1 a 5 estrelas... este produto não leva mais do que 1 estrela, porque promete muito, tem um design técnico com enorme potencial, ganhou um prémio EISA, mas a sua prestação não corresponde minimamente às expectativas.

Lamento que fiquem desiludidos, como eu fiquei, com uma "review" tão negativa. Esperava muito mais... Não há muitas ofertas com qualidade "real" neste segmento de mercado, amplificadores integrados abaixo dos 2000 Euros. É como se houvesse uma problema geral de qualidade abaixo desse valor (ou mesmo até aos 3000 euros alargando um pouco o âmbito). Nesse aspecto, o mercado de usados, ou de ocasião, continua a ser muito mais apelativo, pois por esse preço é possível encontrar máquinas que, sem dúvida, jogam noutro campeonato.


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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Loudness War... compressão dinâmica... ou a guerra do xinfrim!


O fenómeno da compressão dinâmica, carinhosamente apelidado de "Loudness War" nos meios internacionais, refere-se à tendência para um volume sonoro cada vez mais alto na produção musical (especialmente quando o "media" é digital pois tecnicamente é mais fácil manipular para aumentar o volume). Na imagem ao lado pode ver-se um cenário típico de práticas de masterização ao longo dos anos, mostrando três "waveforms" da mesma música masterizada em 1983, 1991 e 1999. O aumento de volume e a perda de gama dinâmica é bastante óbvia, no gráfico e especialmente nas audições. Já notou aquela ligeira dor de cabeça e dificuldade em separar sons quando ouve CD's "modernos", até num bom sistema?


Este tem sido um tema muito em voga nos últimos meses, ao que muito ajudou o recente lançamento do album Death Magnetic dos Metallica (uma produção em que a compressão foi levada ao extremo) e este video no Youtube:


Mas para os mais atentos, é um real problema e uma triste realidade dos últimos 10/15 anos. A compressão dinâmica aplicada tipicamente durante a fase de masterização (captação - gravação - mistura - masterização), deixou e vai deixando uma marca de ruído e de desrespeito pela música numa grande fatia de toda a produção musical gravada e distribuída em formatos físicos ou digitais (online), atingindo especialmente o velhinho "CD", mas não deixou de forma alguma escapar formatos mais nobres (mas hoje moribundos) como o Super Audio CD ou o DVD-Audio, e até as mais recentes produções para vinyl que, infelizmente, muitas vezes são produzidas com recurso a "masters" digitais, por vezes com resolução não superior aos fraquinhos 16bit/44kHz da especificação Red Book (CD) já masterizados com a compressão que foi usada no CD correspondente.

Este fenómeno atinge todos os géneros musicais (ao contrário do que difunde alguma "audiofilia") mas, sem dúvida, é mais difícil escapar-lhe nos discos de pop/rock.

A palavra "remaster" está normalmente associada a este fenómeno, pois o mesmo material que foi editado nos anos 80 sem compressão, é agora remasterizado com os novos standards de baixa qualidade e total desprezo pelo som e pela música. Dá-se prioridade a uma masterização que privilegia as audições no carro ou nos aparelhos portáteis como o iPod, onde a resposta dinâmica dos equipamentos é extremamente limitada e por isso existe um aumento de "volume" com a aplicação de compressão dinâmica que dá uma percepção de se ouvir melhor, apesar da perda de qualidade geral.

Deixo aqui alguns links e informação relacionada que não deve passar ao lado dos interessados pela Música e pelo Audio:

Video 1 (Radiohead)
Video 2 (Dire Straits)
Loudness War no Wikipedia
Audio Mastering no Wikipedia
Barry Diament "Declaring an end to the loudness wars"
Turn Me Up
Pleasurize Music Foundation

(compressão do tema "Something" dos Beatles masterizado em CD quatro vezes desde 1983)

Um ViciAudio não pode admitir que o seu sistema e os seus ouvidos sejam atacados desta forma! É preciso acabar com esta tendência, urgentemente, sob pena de pouca música sobrar por baixo de tanta compressão dinâmica, e dos nossos filhos nunca chegarem a conhecer o que é o som natural, real, sem compressão!


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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

U2 360 Tour Portugal Coimbra 2010

Lá estarei (espero eu) em Coimbra 2010 para ver, talvez, o último concerto "a sério" dos U2. Bilhetes a 125 euros é "duro", mas é o que se conseguiu arranjar. Vai valer a pena certamente!



Apesar dos últimos anos menos conseguidos artisticamente (na minha opinião claro) este novo LP "No Line On The Horizon" agradou-me e surpreendeu-me, soa-me muito "fresco" e sem complexos de ser "pop" mas com uma veia "old school" devidamente mascarada de "modernice" que resultou muito bem. Estamos a falar da banda que nos deu os clássicos "The Unforgettable Fire" e "The Joshua Tree" depois de uma fase quasi-punk-new-wave, mas especialmente uma banda que nos brindou com os mais complexos e arrojados "Achtung Baby", "Zooropa" e em certa medida "Pop"... música que mudou o panorama pop/rock e que fez dos U2 a maior banda do mundo.

Não são o último grito do Art Rock, nem dos movimentos Alt/Indie... muito menos Post-Rock... mas são os U2, e não é preciso dizer mais nada!

http://360.u2.com/
http://www.u2.com/tour/


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Todos os sistemas audio são únicos...

...porque são um conjunto dinâmico, de equipamentos, de interacção acústica com o espaço onde se encontram, de qualidade técnica da música que tocam (a qualidade artística é outra questão embora possa ter um peso psico-acústico ainda maior do que todos os outros factores juntos), e finalmente, os ouvidos do ouvinte, e que os há de todos os tipos e por vezes bem diferentes.

Guardarei para outros "posts" alguma história relativa ao meu percurso até chegar ao meu sistema actual... mas para já, fica uma ficha quase técnica e quase exaustiva, do material que transmite as sensações musicais cá em casa:
  • Gira discos: Rega P3/24 Colours + Fonte de Alimentação Externa TT PSU + Braço RB301 + Contra-peso de "tungsténio" que substituiu o original. (entretanto já fiz upgrade para o Rega P9 - ver aqui)
  • Pré de Phono: Heed Questar MM (marca e design da Hungria)
  • Cabeça: Goldring 2500 MM (é uma marca Inglesa, mas produzida no Japão)
  • Amplificador: Classé CAP-2100 (Delta Series Integrated Stereo Amplifier)
  • Colunas: B&W 805s (sobre suportes específicos da marca, e estes sobre "Superspikes" da Soundcare)
  • Subwoofer: BK XLS200-DF MKII (muito bem integrado, não se ouve só se sente)
  • Cabos de coluna: Mission Quartet (Solid Core com 4 condutores unifilares de 1mm de secção cada espaçados numa configuração de capacitância ultra baixa)
  • Interligações Stereo: Klotz Professional Audio + Neutrik RCA
Convido ao visionamento deste video onde Carlos Santana, numa excelente re-edição pela Mobile Fidelity do seu primeiro album, faz uma demonstração do sistema em acção. Apesar da fraca qualidade da camera e da sua manifesta incapacidade para demonstrar o som que realmente se ouve aqui, sempre dá para entreter os sentidos:



E este é o sistema principal, nesta altura do "campeonato". Nota-se a ausência de uma fonte digital... tinha um fantástico Linn Ikemi (CD) que foi vendido há poucos meses, como resultado de uma opção estratégica pelo analógico. No entanto, para os momentos "digitais", uso um DVD Denon 2910 para essas tarefas, a que agora dou quase nenhuma importância.  Também pode ver-se ali o AV receiver que uso para filmes (Yamha RX-V1500) e uma coluna central Wharfedale CS usada com o mesmo fim.

O P3/24 é o meu primeiro gira-discos, e dada a evolução da minha relação com o Vinil (que tem apenas cerca de 6 meses), pode estar na calha um upgrade que eleve a qualidade da fonte ao mesmo nível da qualidade dos restantes componentes. Mais sobre isso... brevemente...

(entretanto já fiz upgrade para o Rega P9 - ver aqui)

Espero que gostem! Boas músicas para afastar a ressaca é o que desejo nesta noite a todos os viciaudios!


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sábado, 17 de outubro de 2009

Viasónica no Ritz



Hoje estive num pequeno evento da Viasónica no Hotel Ritz em Lisboa. Dos sistemas apresentados, e apesar de algumas más escolhas de "software", como por exemplo uma versão extremamente comprimida e mal equalizada de "Dire Straits Brothers In Arms", ou uma gravação sem grande história (técnica) de "Miles Davis Live In Montreux" que não tem características próprias para demonstrar um sistema audio, gostei bastante de ouvir a sala com colunas Magico, electrónica Audio Research, e fonte SME 20 (gira discos), e a boa companhia do Sr. Pereira da Imacústica (como convidado/colaborador no evento).

Os restantes sistemas, Wilson Sasha + Conrad Johnson (demasiado preso, analítico, frio, e a tocar música mal masterizada/produzida), Sonus Faber + McIntosh (alguma musicalidade mas pareceu-me que pouco passava dos 13khz, roll-off muito acentuado nas altas), os Marantz KI Anniversary + KEF (não ouvi mais do que 3 minutos), os Nagra/Avalon/Meridian/Rotel/B&W (não ouvi nada), e a sala com um setup de cinema em casa baseado em Classé e B&W (não ouvi mais do que 3 minutos), não me deixaram grande impressão, uns porque não lhes dei tempo, outros porque não não eram mesmo nada de interessante (especialmente para o que custam).

Valeu a pena, gostei do evento, gostei de estar com os amigos Luís Patuleia e Ricardo Felisberto, e gostei da organização. E gostei bastante da música na sala das Magico... o único sistema apresentado com fonte analógica, e isso notou-se bem.

http://www.viasonica.pt/


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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Bem-vindo ao ViciAudio... onde o vício do audio é assumido!


"VICIAUDIO.BLOGSPOT.COM - O Vício do Audio está assumido... o primeiro passo é aceitar o problema... depois, a música é o tratamento adequado..."

Criei este Blog para partilhar experiências, ideias, conhecimentos, testes, relativos ao mundo do Audio, na sua vertente de equipamentos e também na vertente de conteúdos e sua produção... falo da qualidade dos diversos media digitais ou físicos (CD/SACD/DVDA/LP etc), desde a criação, à gravação, e posteriores fases de produção (mistura, masterização, fabrico etc) que têm um enorme impacto no resultado sonoro final e no que percepcionamos como "qualidade de som".

Farei também divulgação de eventos nacionais relacionados com o Audio, e respectivas reportagens sempre que possível. É importante esclarecer que o ViciAudio é um blog pessoal, sem pretensões jornalísticas ou científicas, pelo que aqui serão expostas as minhas opiniões e a minha "visão" sobre o mundo do Audio, em abstracto ou relativamente à realidade do Audio em Portugal.

Espero que a informação aqui divulgada seja útil e capaz de gerar interesse na nossa comunidade audiófila nacional.

Sérgio Penim Redondo, 2009


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