Theodore Walter "Sonny" Rollins nasceu em 1930 e continua ainda hoje a tocar e a impressionar o público com a sua capacidade de improvisação e com os seus lendários "standards". A sua discografia é imensa, atravessou vários períodos da evolução do Jazz e passou por diversas editoras, mas alguns discos acabaram por ganhar um lugar especial no meu coração musical. Alfie, que compôs como banda sonora para acompanhar Michael Caine no filme com o mesmo nome, é um desses discos que faz parte da minha lista de música essencial. Durante uma curta mas proveitosa relação com a Impulse! nos anos 1965 e 66 da qual nasceram apenas 4 albums, Alfie foi o penúltimo seguido de "East Broadway Run Down" (outro preferido) que marcou o início de um interregno musical de 6 anos em que se ocupou do estudo da meditação, yoga e filosofias orientais... talvez por isso estes albums pela Impulse! tenham tido mais tempo para amadurecer aos ouvidos do público, apesar do seu disco mais conhecido ser "Saxophone Colossus".
Normalmente gosto das reedições "audiófilas" e 100% analógicas que têm vindo ao mercado em grande quantidade, produzidas por labels bem conhecidas como a Analogue Productions, Classic Records, ORG, Music Matters, Speakers Corner, Mobile Fidelity Sound Labs, Audio Fidelity, Impex / Cisco, Hi-Q Records e outras, especialmente quando se trata de edições masterizadas em vinil de 45rpm a partir das "master tapes" por engenheiros conhecidos pelo seu bom trabalho e prensagens de qualidade nas melhores fábricas do mundo. Mesmo quando se trata de "master tapes" com 30, 40, 50 anos ou mais, a verdade é que ao longo de todos esses anos ocorreu uma forte evolução tecnológica que permite obter resultados de maior qualidade, fidelidade e transparência, mesmo falando de diferenças téncnicas importantíssimas que entre os anos 60 e os anos 80 tornaram a produção dos discos (em todas as suas fases) muito mais apurada.
Essas reedições podem por isso mesmo oferecer melhor qualidade de produção durante a masterização e prensagem, muitas vezes também fruto de algumas opções mais interessantes do mastering engineer, permitindo reproduzir a música com maior fidelidade à "master tape" com muito menos limitações do que em décadas anteriores (por exemplo no design de consolas, decks e cutters), além de que muitas vezes os LP's originais, quando falamos de Jazz são primeiras prensagens americanas tipicamente, podem ser muito difíceis de encontrar em bom estado ou por um preço minimamente razoável, pelo que estas reedições com "pedigree" bem documentado e de qualidade são sempre uma boa opção que evita a "caça" ao original tantas vezes dispendiosa e ocasionalmente impossível... No entanto não são só vantagens.
O que uma tape com 40 ou 50 anos não tem é a frescura de uma tape com 3 ou 4 meses.... claro que algumas Master Tapes foram extremamente bem conservadas pelas editoras ou seus proprietários e dificilmente o ouvinte poderia detectar qualquer tipo de deterioração sonora decorrente da idade da fonte, mas nem todas tiveram essa sorte e algumas foram mesmo guardadas e manipuladas em condições miseráveis e sofreram perdas consideráveis. Ouvir uma sessão de gravação do Rudy Van Gelder (que também faz a masterização para o vinil) fresquinha acabadinha de passar para o LP onde ficou registada para sempre toda a sua gloriosa juventude, é sempre uma experiência reveladora, especialmente no que diz respeito à amplitude e clareza das altas frequências bem como os transientes em geral mais acutilantes.
No caso de Alfie, o caso torna-se ainda mais "bicudo". Este título esteve durante muito tempo no calendário de reedições "Ultimate 45rpm" da ORG (Original Recordings Group) comandada pelo lendário mastering engineer Bernie Grundman. O tempo foi passando, e eu esperava... até que perdi a paciência e decidi escrever à ORG perguntando qual o motivo da demora do seu lançamento. A resposta foi desconcertante, ao que tudo indica a Master Tape original da sessão de gravação de Alfie está desaparecida, ninguém conseguiu encontrar a tape e neste momento é dada como perdida, provavelmente para sempre (embora não tenha sido oficializado). Numa das muitas vendas e trespasses do catálogo da Impulse! ao longo dos anos, bem como nas transferências de tapes entre continentes (raro mas por vezes acontecia), houve muitas Master Tapes que se perderam ou danificaram para sempre, sendo agora impossível produzir novos media (qualquer formato) a partir de uma fonte que não seja, pelo menos, uma cópia de segunda geração.
Portanto, se quiser deixar-se seduzir pela música e pelo talento de Sonny Rollins (bem acompanhado por nomes como J.J. Johnson e Kenny Burrell), ou deixar-se iludir por Alfie e viajar até 1966 com o melhor som possível, trate de começar a procurar o LP original da Impulse! (edição USA) pois só assim vai estar a ouvir o som da Master Tape no corte original de Rudy Van Gelder. Não sou adepto incondicional do seu tipo de produção sonora, em muitos casos as suas gravações e masterizações privilegiam demasiado os instrumentos de sopro mas emprestam ao piano e ao contrabaixo (e por vezes à bateria) uma apresentação sonora algo enclausurada, com dinâmica reduzida. Mas não é sempre assim, e RVG é considerado universalmente um mestre da sua arte. Neste LP de Alfie o som é muito equilibrado, dinâmico e realista, todos os instrumentos estão bem representados e, praticamente, dentro da minha sala! São 46 anos de frescura conservados num disco de vinil. O Alfie é que não tinha frescuras nenhumas com elas...
Sonny Rollins - Alfie
Impulse! USA 1966 Stereo A-9111
Matrix Side A: AS-911-A LW VAN GELDER
Matrix Side B: AS-911-B LW VAN GELDER
(Music from the Score / Orchestra Conducted by Oliver Nelson)
Resumo da Classificação ViciAudio (Música 10/10 - Som 9/10 - Produto 9/10): Música e performance excepcionais por um dos mais consagrados músicos da história do Jazz, uma primeira edição original Americana gravada e masterizada pelo lendário Rudy Van Gelder em estado quase imaculado, capa "gatefold" da época em bom estado com o design e a qualidade de apresentação típica da Impulse!
Para ver e ouvir em http://ViciAudio.blogspot.com
Parabéns pelo site, e pelo trabalho! Excelente música , que é o mais fundamental, mas a referência á qualidade de gravação também é um pormenor que há que valorizar , pois sou da opinião que uma má gravação pode ter a capacidade de impedir o envolvimento com a música( mesmo que seja de grande qualidade)!
ResponderEliminarObrigado Gonçalo! Um abraço e muita música! :)
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