(reedição impressionante da ORG roda a 45rpm no meu Rega P9)
Paco de Lucía deixou-nos em Fevereiro de 2014 aos 66 anos, vítima de um ataque cardíaco. Foi um momento de grande tristeza, nunca queremos ver os nossos ídolos partir tão cedo, e Paco de Lucía foi um dos nomes mais importantes da Música Flamenco a qual ajudou a promover junto de um público muito mais vasto, mas não foi apenas isso, ele foi um ícone de pura criatividade e virtuosismo para muitos quadrantes musicais desde o Jazz até à Música Clássica.
Para mim, quando era um jovem adolescente o seu nome traduzia-se em algo como "incrível magia da guitarra", e algumas das minhas memórias mais marcantes de ouvir música no sistema audio do meu pai vêm das audições do Friday Night In San Francisco que me davam a sensação de estar mesmo lá, no meio do público com a performance a decorrer mesmo à minha frente.
Este é um dos meus discos preferidos de sempre, e tenho de admitir que passei uma grande parte da minha juventude a ouvir esta obra-prima em CD. Felizmente para mim, não existe nenhuma versão deste disco em qualquer formato que soe mal, tem sempre pelo menos um som muito bom. Mas havia, claro, espaço para melhorar, e este album considerado por muitos como a melhor performance de guitarra acústica ao vivo alguma vez gravado, certamente merece o tratamento audiófilo definitivo.
Eu nunca senti que fosse necessária uma versão melhor do que os meus originais em CD e LP, mas quando foi anunciada esta reedição da ORG masterizada por Bernie Grundman fiquei extremamente curioso para a comparar às edições originais e à última versão que foi lançada em SACD. Sem eu saber, vinha aí uma grande surpresa...
A tonalidade geral é muito semelhante à da masterização original dos anos 80, mas com um aumento massivo do detalhe, resolução e resposta de transientes. Melhor dizendo... a evolução sobre a presença e energia da performance é simplesmente arrebatadora! Por outro lado, o SACD tem uma sonoridade muito mais brilhante (ou aguda), as cordas apresentam mesmo um som diferente...Não deixa de ser bom mas já não parece ser a mesma gravação. Uma possível explicação é que a masterização do SACD foi uma tentativa de tornar o som mais aberto para o som das cordas ter uma tonalidade mais rica, o que é obviamente uma boa intenção, no entanto parece que tiveram de mexer demasiado na equalização para chegar a esse som ideal, com um aumento nas gamas alta e média-alta, e depois provavelmente tentando limitar a crista superior desse aumento... o que resultou em algo que é pelo menos estranho e eu prefiro o som do CD e LP originais que é bastante mais natural e directo.
As guitarras abanam e picam e gritam conduzindo ritmos percussivos e energia bruta nos limites das capacidades da gravação, mesmo o toque mais ligeiro do engenheiro de masterização pode destruir o fino equilíbrio entre elas. Sempre estive mais do que satisfeito com a qualidade desta gravação, deixou sempre os ouvintes com a boca aberta de espanto desde o primeiro dia em que foi editada, e ainda o faz sem excepção. Parece-me que a abordagem da ORG funcionou maravilhosamente para a melhorar e permitir que o carácter feroz, interacção espectacular e a verdadeira natureza da performance sejam apresentados com maior fidelidade do que alguma vez tinha sido feito antes, com resposta de transientes de tirar a respiração e uma estonteante imagem estereo para nos trazer esta sessão ao vivo histórica para dentro das nossas casas em toda a sua glória holográfica. Basicamente, a ORG soube focar-se no que realmente interessa para melhorar e evoluir sobre o som original!
Ouvir esta reedição em duplo vinil de 45rpm traz de volta aquelas longas noites de verão dos anos 80 com as Quad ESL-63 e o rio Tejo. Nada pode substituir esses momentos especiais e as sensações que ouvir música dessa qualidade imprimiu na minha personalidade e no que sou hoje... mas tenho de dizer que esta reedição elevou a qualidade de som para um nível muito superior, ponha este disco no seu gira-discos, apague as luzes, suba o volume para apreciar a dinâmica completa e transientes acentuados, e prepare-se para ser surpreendido outra vez!
A noite começa com um "medley" de quase 12 minutos com "Mediterranean Sundance" e "Rio Ancho" compostos por Di Meola e Paco de Lucía, esta viria a tornar-se a parte mais famosa e reconhecida do album, uma performance solta, espontânea e deliciosa. Segue-se o bem humorado "Short Tales of the Black Forest" de Chick Corea e "Frevo Rasgado" de Egberto Gismonti (um dos meus temas perferidos), para fechar com "Fantasia Suite" (Di Meola) e a melodia intensa do final "Guardian Angel" (McLaughlin).
Não podia haver uma melhor forma para demonstrar o nosso respeito e prestar homenagem a Paco de Lucía do que reeditar este disco, esta noite, em vinil audiófilo de tão alta qualidade. Tenho a certeza de que um dia a minha filha também se vai deixar arrebatar por este disco, como eu deixei... esta reedição traz de volta a magia e acrescenta-lhe muito mais.
Classificação ViciAudio: Música (0-10): 10 Som (0-10): 10 Produto / Valor (0-10):9
Al di Meola / Paco de Lucia / John McLaughlin
Friday Night In San Francisco (1981)
2012 ORG USA Edição Limitada e Numerada (2500 unidades no Mundo)
Número de Catálogo: ORG 125
Matrix Lado A: ORG 125-A45 88697978081 A Bernie Grundman 20155.1(3)
Matrix Lado B: ORG 125-B45 88697978081 B Bernie Grundman 20155.2(3)
Código de Barras: 858492002251
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