quarta-feira, 29 de maio de 2013

A rodar: Carlos Paredes - Movimento Perpétuo (1971) - Vinil LP



Este é um dos meus discos de referência, um dos que fez parte da minha infância e me ajudou a crescer, tocava muitas vezes na casa dos meus pais bem como outros LP's do Carlos Paredes e em geral a boa Música Portuguesa, e continua a tocar agora na minha casa. Obra maior da nossa música e da nossa identidade nacional, Movimento Perpétuo de Carlos Paredes é um disco que considero o expoente máximo do ideal de união e harmonia entre virtuosismo e verdadeira emoção que a música pode e deve transmitir. Poucos são os casos em que as duas vertentes se misturam de forma tão intensa, fundindo-se para criar uma experiência verdadeiramente emotiva que nos toca a alma e nos deixa rendidos à beleza do som e da melodia, e isto acontece com absoluta naturalidade apesar do ataque monstro de técnica pura e virtuosismo extremo que Carlos Paredes demonstra em cada passagem de complexidade e destreza física quase inacreditáveis! Falamos de um guitarrista que não devia nada a nenhum outro no Mundo no que diz respeito à sua técnica com a guitarra, mas principalmente falamos de um compositor e de um Homem que expandiu e reinventou todo um género musical com uma sonoridade completamente nova e que lhe associou para sempre uma profundidade emocional que todos os Portugueses podem sentir e chamar de "a sua música".




Tenho quatro versões diferentes deste album, em CD e em vinil de épocas diferentes. Entre os dois CD's, comparando a versão original com a versão "remasterizada" mais moderna, rapidamente se percebe que o remaster pouco mais fez do que estragar o som do CD original com equalização exagerada e compressão que tornam o cantar da guitarra numa aberração sonora praticamente insuportável e completamente irreal, um som agressivo e sem corpo que não representa minimamente a gravação original ou o instrumento. A remasterização disparatada era perfeitamente dispensável e não passou de um exercício de marketing, apenas o CD original merece consideração no que diz respeito à qualidade de som em formato digital... e a qualidade é boa, uma masterização simples e sem exageros permite inclusivamente dar ao CD algum valor acrescentado relativamente ao vinil LP em algumas áreas específicas que explico a seguir.

Comparando o CD original com as edições em vinil, pode dizer-se que o CD apresenta maior extensão de frequência com agudos mais audíveis e geralmente bem sonantes, mas no geral o som do LP soa mais natural e credível com maior resolução especialmente porque a zona das médias frequências, onde está a maior parte daquilo a que chamamos música, é de facto bastante mais rica e realista, bem como o peso das notas mais graves que soam mais intensas e se propagam de forma mais presente. Diria que no CD se ouvem as cordas da guitarra com maior detalhe, mas no LP é o corpo da guitarra e o ambiente do estúdio que se tornam mais evidentes combinando-se com as cordas, suficientemente expressivas nos transientes (ainda que no CD o sejam ainda mais), para tornar a experiência de audição mais completa.




Dito isto, acho que a principal ideia a reter deste comparativo de versões é que os LP's e o CD original permitem sem qualquer dúvida usufruir desta música excepcional e que o LP é o formato que oferece a melhor experiência deste album e melhor qualidade de som, mas de facto nenhum deles conseguiu extrair todo o potencial desta gravação e transpôr todo o "sumo" da Master Tape para o formato final. É um disco que merecia uma remasterização de grande qualidade nos melhores formatos disponíveis, obviamente em vinil LP para se produzir a versão definitiva analógica desta obra ímpar, e desejavelmente também em SACD, Blu-Ray ou ficheiro digital de alta resolução... não posso deixar de sonhar com uma reedição audiófila masterizada a partir da Master Tape original para duplo vinil de 180gr para tocar a 45rpm!

Em vez disso, o que apareceu recentemente foi uma reedição da Drag City, uma editora independente de Chicago nos Estados Unidos que terá utilizado para masterizar este LP a melhor fonte disponível que lhes foi enviada pela EMI Portugal: a Master de CD! Ou seja, nem a Master Tape analógica original, nem sequer um ficheiro com uma transferência de alta resolução dessa tape... o que a EMI Portugal considerou suficiente para lançar Carlos Paredes no Mundo em formato vinil foi um CD com resolução básica 16/44 (e provavelmente com a mesma horrível equalização que foi usada no CD remasterizado referido anteriormente). Enfim, apesar de louvar esta iniciativa bem intencionada da Drag City que fez o melhor possível com o que lhes foi dado, não posso deixar de criticar a opção da EMI Portugal, e não poderei recomendar de forma alguma a compra desta reedição em vinil, especialmente para o público português já que as edições em vinil original da época não são muito dificeis de encontrar, e são bem boas.





As duas versões em vinil que tenho na minha colecção são muito semelhantes, mas as pequenas diferenças distinguem entre uma primeira edição e uma reedição posterior, sendo que a primeira prensagem tem uma capa ligeiramente diferente por ser laminada com efeito brilhante e liso, além de ter a face da capa dobrada sobre a contra-capa, método que foi abandonado mais tarde para dar lugar a uma capa normal não laminada e sem a dita dobra (como se pode ver nas imagens). Além disso, a informação da matrix dos LP's e o número de catálogo da editora também é diferente entre a primeira prensagem e a outra que foi comercializada posteriormente (ver detalhes técnicos no fim do artigo). As diferenças de som entre os dois LP's são praticamente inexistentes, a única justificação para se perder mais tempo ou gastar mais dinheiro numa primeira edição, neste caso, será apenas o puro coleccionismo ou preferência pelo acabamento da capa, já que a performance sonora é virtualmente idêntica nas duas prensagens.

Provavelmente o meu disco preferido de uma discografia fabulosa de Carlos Paredes, merecia uma maior divulgação a nível internacional, algo como foi feito pela Drag City mas com níveis de qualidade mais elevados de acordo com o estatuto deste grande Músico do Mundo! Enquanto isso não acontece, vamos ouvindo o LP original (e o CD original para ouvir no carro) que é muito capaz de nos transportar para aquele lugar comum que todos temos na alma portuguesa, pela mão do Homem dos Mil Dedos. Se tem um daqueles CD's remasterizados de 2003... não se esqueça de o deitar fora!

"Quando eu morrer, morre a guitarra também. O meu pai dizia que, quando morresse, queria que lhe partissem a guitarra e a enterrassem com ele. Eu desejaria fazer o mesmo. Se eu tiver de morrer, morrerá comigo a minha guitarra." ~ Carlos Paredes

Mas a sua música ficará para sempre!



Detalhes técnicos das edições referidas neste artigo:

Carlos Paredes "Movimento Perpétuo" - Vinil LP
Columbia / EMI Valentim de Carvalho (1971/1971)
Primeira Edição (capa laminada e dobrada sobre contracapa)
Produzido em Portugal
Catálogo: 8E 062 40150 Estereo
Matrix Lado A: E062-40150-A-2
Matrix Lado B: E062-40150-B-1

Carlos Paredes "Movimento Perpétuo" - Vinil LP
Columbia / EMI Valentim de Carvalho (1971/?)
Segunda edição (capa não laminada)
Produzido em Portugal
Catálogo: 1401501 Estereo
Matrix Lado A: E062-40150-A-3
Matrix Lado B: E062-40150-B-3

Carlos Paredes "Movimento Perpétuo" - Vinil LP
Drag City (1971/2011)
Reedição Made in USA
Catálogo: DC493
Código de Barras: 781484049319 (num autocolante)

Carlos Paredes "Movimento Perpétuo" - CD
EMI Valentim de Carvalho Música Lda (1971/1988)
Primeira Edição em CD (AAD)
Made in France by MPO
Catálogo: 7913122

Carlos Paredes "Movimento Perpétuo" - CD
EMI Valentim de Carvalho Música Lda (1971/2003)
CD Remasterizado
Made in EU
Catálogo: 7243 5 93576 2 1

Para ver e ouvir em http://www.viciaudio.pt   Visite também o ViciAudio no Facebook!


www.VinylGourmet.com - Discos de Vinil / Edições Audiófilas

7 comentários:

  1. Confirmo, a qualidade de som deste LP produzido pela Drag City é decepcionante. Não por culpa da editora que produziu o LP mas por culpa da EMI que disponibilizou um CD com qualidade vergonhosa. Até doí ouvir pois o som é estridente e sem alma. Vou tentar arranjar a versão original da Columbia que de certeza é BEM melhor !!!

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  2. Muito obrigado pelo artigo - grande, enrome ajuda. Andava 'a procura desta informacao relativamente 'a masterizacao da endiacao da Drag City por foruns audiofilos anglo-saxonicos e nao encontrei nada. Estava na duvida se havia de investir numa versao original Near Mint e ja vi que vale bem a pena. Assim o farei.

    E ja sei onde vir quando tiver 'a procura do mesmo tipo de informacao sobre outros albuns Portugueses ;) Bom trabalho.

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  3. Curiosidade minha, como é que sabe que é a edição original?
    Tenho uma com as seguintes características :
    Capa laminada e dobrada sobre contracapa, quer em cima (2cm), quer em baixo (1,5cm) ;
    Catálogo: Capa e Contra-capa 11C 074 40 150 ; Label 8E 062-40 150 ; Contra-capa Letra Y dentro de um circulo (equivalente ao J da sua foto)
    Matrix Lado A: E062-40150-A-2
    Matrix Lado B: E062-40150 "sinal de diferente" B-3

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    1. Penso que com a capa deste tipo (dobrada) só existe na primeira edição, mesmo com variações da Matrix.

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  4. Recentemente verifiquei existir uma outra versão do "Movimento Perpétuo".
    É um lp duplo, em conjunto com o "Guitarra Portuguesa" e parece-me que é editado pela Philips. Há possibilidade de se saber mais coisas sobre esta edição?
    Muito obrigado por antecipação.
    António Geraldes

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    1. Boa noite, não conheço a edição que refere, não posso ajudar :(

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